Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Sobre diversos temas, sobretudo de cariz político, abordados de forma simples e subjetiva. Não dominando a arte da escrita, espero que os textos sejam percetíveis e permitam uma reflexão sobre os assuntos abordados.
Escrevo este artigo algum tempo após o dia 18 de maio, já com os resultados das eleições para a Assembleia da República assimilados, o que me permite fazer uma análise mais racional e desapegada, livre de reações emocionais imediatas.
O Partido Socialista, que durante décadas foi força estruturante da democracia portuguesa, caiu para a terceira posição no panorama político nacional. E mais do que isso: assistimos ao crescimento expressivo do CHEGA, apoiando-se num discurso marcado pela exclusão, pela divisão social e pela exploração dos receios da população.
É impossível esconder a desilusão. Como socialista, e como cidadão profundamente comprometido com os valores de abril, sinto um misto de tristeza e responsabilidade. Tristeza por ver o avanço de ideias que colocam em causa direitos, liberdades e garantias que julgávamos consolidadas. Responsabilidade por sabermos que, se chegámos até aqui, foi também porque não fomos capazes de responder, com a urgência e a clareza necessárias, aos sinais de alarme vindos da sociedade.
A verdade é que muitos portugueses se sentem esquecidos. Sentem que a política perdeu o contacto com o quotidiano real, com as dificuldades concretas da vida. As promessas não pagam rendas. Os discursos não resolvem a espera nas urgências hospitalares. Os slogans não garantem uma creche pública, um salário digno ou uma reforma decente.
A derrota que o PS sofreu não pode ser ignorada nem minimizada. Ela é um sinal claro de que parte significativa da população já não se sente representada pelas suas palavras, pelas suas propostas e pelas suas ações. Foi um alerta profundo de que há uma fratura na confiança entre representantes e representados e que há um cansaço com os mesmos rostos, as mesmas fórmulas e a mesma distância.
Não é fácil encarar a realidade quando ela nos contraria. Mas a humildade, especialmente na vida pública, é um dever. É ouvindo o povo, mesmo quando o povo nos vira as costas, que se constrói uma política verdadeiramente democrática. O voto é um recado. E este recado foi claro: há cansaço, há frustração, há desconfiança…
Talvez se tenha falhado em escutar com atenção as necessidades de uma geração que enfrenta precariedade, insegurança habitacional, crises ambientais e desilusão com a própria ideia de futuro.
Se a mudança foi pedida, então é um dever entender porquê! É, também, uma obrigação reformular estratégias, ouvir mais e agir melhor.
O socialismo português está ferido, mas não está derrotado. Está a ser chamado a renascer com mais verdade, mais proximidade e mais coragem. O povo português quer mudança. E o PS tem de ser parte dessa mudança, ou será ultrapassado por aqueles que a prometem com soluções fáceis, mas perigosas.
A luta por um país mais justo, mais igualitário e mais solidário não termina num ciclo eleitoral. Ela é permanente e cada derrota deve servir como oportunidade de recomeço. Temos de voltar a caminhar ao lado das pessoas, partilhar as suas dificuldades e os seus anseios, e trabalhar para oferecer respostas que sejam verdadeiras, eficazes e sentidas no dia a dia.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.