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Escutar o Recado das Urnas

por JB, em 30.05.25

Escrevo este artigo algum tempo após o dia 18 de maio, já com os resultados das eleições para a Assembleia da República assimilados, o que me permite fazer uma análise mais racional e desapegada, livre de reações emocionais imediatas.

O Partido Socialista, que durante décadas foi força estruturante da democracia portuguesa, caiu para a terceira posição no panorama político nacional. E mais do que isso: assistimos ao crescimento expressivo do CHEGA, apoiando-se num discurso marcado pela exclusão, pela divisão social e pela exploração dos receios da população.

É impossível esconder a desilusão. Como socialista, e como cidadão profundamente comprometido com os valores de abril, sinto um misto de tristeza e responsabilidade. Tristeza por ver o avanço de ideias que colocam em causa direitos, liberdades e garantias que julgávamos consolidadas. Responsabilidade por sabermos que, se chegámos até aqui, foi também porque não fomos capazes de responder, com a urgência e a clareza necessárias, aos sinais de alarme vindos da sociedade.

A verdade é que muitos portugueses se sentem esquecidos. Sentem que a política perdeu o contacto com o quotidiano real, com as dificuldades concretas da vida. As promessas não pagam rendas. Os discursos não resolvem a espera nas urgências hospitalares. Os slogans não garantem uma creche pública, um salário digno ou uma reforma decente.

A derrota que o PS sofreu não pode ser ignorada nem minimizada. Ela é um sinal claro de que parte significativa da população já não se sente representada pelas suas palavras, pelas suas propostas e pelas suas ações. Foi um alerta profundo de que há uma fratura na confiança entre representantes e representados e que há um cansaço com os mesmos rostos, as mesmas fórmulas e a mesma distância.

Não é fácil encarar a realidade quando ela nos contraria. Mas a humildade, especialmente na vida pública, é um dever. É ouvindo o povo, mesmo quando o povo nos vira as costas, que se constrói uma política verdadeiramente democrática. O voto é um recado. E este recado foi claro: há cansaço, há frustração, há desconfiança…

Talvez se tenha falhado em escutar com atenção as necessidades de uma geração que enfrenta precariedade, insegurança habitacional, crises ambientais e desilusão com a própria ideia de futuro.

Se a mudança foi pedida, então é um dever entender porquê! É, também, uma obrigação reformular estratégias, ouvir mais e agir melhor.

O socialismo português está ferido, mas não está derrotado. Está a ser chamado a renascer com mais verdade, mais proximidade e mais coragem. O povo português quer mudança. E o PS tem de ser parte dessa mudança, ou será ultrapassado por aqueles que a prometem com soluções fáceis, mas perigosas.

A luta por um país mais justo, mais igualitário e mais solidário não termina num ciclo eleitoral. Ela é permanente e cada derrota deve servir como oportunidade de recomeço. Temos de voltar a caminhar ao lado das pessoas, partilhar as suas dificuldades e os seus anseios, e trabalhar para oferecer respostas que sejam verdadeiras, eficazes e sentidas no dia a dia.

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15 comentários

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De Manuel da Rocha a 30.05.2025 às 15:25

Destas legislativas tirei, conclusões semelhantes a si. As pessoas deixaram de gostar do palavreado caro e promessas vãs. Os colarinhos branco (PSD, CDS e PS, BE e PCP) que tanto se moviam, perderam para as vedetas televisivas. Foi aqui que PSD e Chega, agiram em força. Com 8000000 milhões de horas, a AD e o Chega (75%), conseguiram vender, ideias de que vão "salvar Portugal". Montenegro, deu jeito, estas legislativas, é que já sabem que vão precisar de novo orçamento, para 2025. O original, aprovado em Novembro, 2024, já está 8%, fora do previsto, no custo. Mesmo com os 3%, acima do previsto, de receitas, não dá para cumprir. No ano passado, Montenegro jurou 600000 vezes que iria precisar "de alterar 100% do orçamento", para, o ministro das finanças, dizer que, afinal, o orçamento tinha 4300 milhões, de margens, para usar. Uma foi usada com o prémio nas pensões. Este ano, o plano era parecido 3000 milhões estavam cativos, para um prémio de 500 a 8000 euros, em cada pensão, em Setembro. Só que PS-PCP, conseguiram cortar 2200 milhões, com o aumento extraordinário, que o Montenegro dizia "Vai obrigar a 5000 milhões, de receita adicional.", afinal, até Março, o maior problema foram os 2200 milhões, de despesas, com os gabinetes já fizeram, em 2025.
Do outro lado, vi que 1500000 portugueses (descontando os 72661 votos, de emigrantes, que apareceram com cópias de identificação, em milhares de casos, com 20 a 30 anos, fora de validade, maioria da Suiça e França) votaram numa coisa que promete salários mínimos de 200000 euros, anuais, para todos, 90%, na redução de impostos, mais 4000 milhões de turistas, anualmente e dizer que consegue 650000 milhões de euros, de receitas públicas, anualmente. E ficou explicado o porquê da banca fazer 833 milhões, de euros, de lucros mensais.
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De s o s a 02.06.2025 às 23:03

que dizer ...parece um discurso de politico, e bom !
Mas, muito academico, apesar de pés no chao.
Se fosse fácil, oh se fosse facil...

Entao mas a derrota, se excluirmos as sondagens, nao é uma surpresa e incompreensivel ? Ademais nem sequer era o
partido no poder !

O futuro é, sempre, uma incognita, mas prefiro pensar que os socialistas sao vitimas de um clima desfavorável.
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De Ines F. a 03.06.2025 às 10:14

Obrigada pela sua partilha. Há um aspeto que me preocupa muito - precisamente o facto de quase ninguém estar a tentar ler estes resultados. Nos últimos anos, perdemos a capacidade de "discutir" ideias, trocar opiniões e, consequentemente, perceber que ter opiniões diferentes também acrescenta.
Sinto que há um acentuar de extremos logo desde o centro. Se não somos de esquerda, somos fascistas e se não somos de direita somos uns puritanos dependentes de subsídios.
E este acentuar e subir de tom vem, a meu ver, de comentadores que se excedem e de políticos demasiado fraquinhos e focados em semear o ódio. Todos, refiro-me efetivamente a todos.
É importante olhar para o eleitorado do chega e perceber efetivamente o que leva tantas pessoas a fugir do centro, de uma política social, equilibrada e respeitosa, para um partido que "fala mais alto", que põe em causa muitos dos nossos direitos e liberdades. E quando dizem que "o eleitorado do chega tem menor formação académica", desculpem, continuam a mostrar que não perceberam nada disto. E isso preocupa-me ainda mais!
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De Anónimo a 03.06.2025 às 18:44

"Nos últimos anos, perdemos a capacidade de "discutir" ideias, trocar opiniões e, consequentemente, perceber que ter opiniões diferentes também acrescenta."
Perdemos mesmo e vemos bem isso nos blogues. Outro problema é que o que deve ser discutido é selecionado e alguns com pouca cultura não questionam e obedecem. Ter opiniões diferentes também acrescenta e ler assuntos diferentes dos escolhidos por outros, também.
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De Máximo Domingos a 03.06.2025 às 13:03

Acho que o PS TEM MESMO DE ANALISAR PROFUNDAMENTE a sua política.
Preocupa ouvir dizer que vai viabilizar o OE do PSD , não por antes mesmo de publicado, mas sabendo as medidas politicas que vai levar a cabo. Assim não vamos lá, se cada vez que a direita vai ao Governo destroi a politica de esquerda e quando o PS lá está deixa tudo como ficou e não implanta a de esquerda, antes e muitas vezes a corrobora e pratica. É o caminho correcto para fazer DESAPARECER o PS, seguindo os passos da Europa.
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De António José a 04.06.2025 às 07:55

Não devemos estar a viver no mesmo planeta ou então o governo da geringonça foi um pesadelo que só aconteceu na minha cabeça.
Desde Cavaco a única vez que um governo levou a cabo uma política de direita com medidas de direita foi com Passos Coelho e o Costa veio atrás e reverteu tudo.
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De ARTUR PARRACHO AP JOGOS a 03.06.2025 às 15:38

Mas as politicas de esquerda, levam-nos a algum lado? Está provado que não! Toda a Europa está a mudar. ficou cansada, as populações, deixaram de ser ouvidas, tomam-se decisões na " Bolha " e a " Bolha " rebentou ...
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De João Sousa a 03.06.2025 às 17:32

Ora, dos últimos 30 anos, 22 foram de governo socialista, sendo que os restantes 8 foram PPD-PSD coligado com CDS-PP, e em que metade deste tempo foi mandatado por estrangeiros, chamados pelo ilustre eng. José Sócrates dado que nos tinha acabado de levar à bancarrota pela 3ª vez na história da nossa democracia (e de todas as vezes, os estrangeiros foram chamados pelo mesmo partido).

O mesmo partido que se aliou à extrema-esquerda em 2015, após ter perdido nas urnas, sob o pretexto de possuírem uma maioria parlamentar, quando na realidade foi a fuga para a frente e completo desespero do Sr. António Costa para salvar a sua carreira política. Ora, 10 anos volvidos, o que essa maioria nos deu foi um SNS depauperado e que nunca funcionou tão mal (e paradoxalmente nunca foi tão bem financiado), a Justiça que é o que se assiste diariamente (pode ser que seja desta que o engenheiro que nos levou à bancarrota seja julgado, mas é ver para crer), uma lei da nacionalidade que só falta é ser atríbuida nas caixas de cereais da Nesquik e Corn Flakes e com zonas públicas do nosso território interditas de assar um porco no espeto sob prejuízo de ofender gente alheia aos nossos costumes. Paralelamente, andamos a formar doutores, engenheiros, enfermeiros, etc... para os exportarmos para fora, pois aqui ganham-se ordenados dos anos 80 (com sorte), e invés andamos a importar pessoas para servir à mesa e entregar comida porta a porta (quem é que ganha com isto? Fica a pergunta). Para além disto, é completamente incompreensível como nós, com praticamente 40 anos de CEE/UE sejamos constantemente ultrapassados por países do ex-bloco soviético, sendo que nalguns casos temos praticamente 20 anos(!) de avanço.

Isto é só olhando para os sintomas mais gritantes (porque há muitos mais), pois o PS tem sido o principal responsável pela completa aversão e inexistência de reformas no nosso Estado, continuando a insistir em fórmulas gastas e ultrapassadas, só para manter um status quo que interessa a uma elite minúscula que em nada representa o real Portugal. Já ouço falar que se tem que cortar as gorduras do Estado desde o sr. Pina Moura (já lá vao mais de 25 anos!), a carga fiscal só aumenta pois o Estado não corta em nada (dado que isso não dá votos) e chegamos ao ponto em que a mesma já perfaz quase 40% do que se produz (e isto num país que pouca riqueza cria e passa a vida a distribuir, é só e apenas uma questão de tempo até dar buraco).

Faz-me uma particular confusão quando olho para as pessoas que orbitam no Largo do Rato e estão todas (mas mesmo TODAS) ligadas directa ou indirectamente ao engenheiro da bancarrota (e a única pessoa que teve um mínimo de coragem para fazer uma regeneração, foi a modos que "convidada" a sair à conta de ter ganho por "poucochinho").

Apontar problemas é fácil, mas e soluções para tudo isto? Gente de coragem, estadista, da esquerda à direita, e que meta Portugal a criar riqueza, para que de uma vez por todas deixemos de andar na cauda da Europa, de mão estendida à espera das esmolas da UE.

Para terminar este longo comentário, se o PS se quiser manter relevante no panorama nacional, tem que se regenerar na totalidade. Reformar quem tem de se reformar (Santos Silva, por exemplo), e aproximar-se do Portugal real. Deixar a maluqueira woke de uma vez para os chalupas do Bloco e afins, e começar a trabalhar a sério para o bem de Portugal. Se não o fizer, então espera-lhe o mesmo lugar de irrelevância na história, restando-lhe fazer companhia ao PS francês, PASOK grego e tantos outros partidos que se fecharam e encerraram sobre si mesmos.

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De Manuel Dias a 03.06.2025 às 17:57

È muito fácil fazer a análise dos resultados eleitorais. O aumento do número de votos da AD resultou do amento de rendimento a algumas classes sociais, além de a pensionistas e reformados. O Chega viu o número de votantes subir bastante, por aquilo que aconteceu com os votantes no PCP e como a nova geração vê e sente a sociedade. Os seniores, votantes no PCP, ainda existentes, veem no Chega, o novo partido da resistência. Os extremos tocam-se. Não foi a AD, quem ganhou com a alteração de voto dos votantes do PCP, mas o Chega.
O PS perdeu um elevado número de votos, porque, apesar de ter um orçamento aprovado, para 2024, onde poderia remunerar melhor as ditas classes profissionais(professores e outras), face à queda do governo do PS, pela demissão do 1º. ministro António Costa, afirmou, desde logo, que seria o próximo governo, que faria isso, se assim entendesse. Como não distribuiu dinheiro, perdeu as eleições de 2024. Como foi a coligação AD quem distribuiu dinheiro naquele ano e no presente, ganhou.
A nova geração, julgo que está a formar uma nova sociedade. Já não existem operários, nem empregados de escritório, apenas colaboradores, para que se vote no PCP ou PS. Hoje, há a sensação de que é colocado tudo ao alcance de quem nasce. Esta falsa sensação de infinito bem estar só se verifica, que não é assim, quando chega a adolescência. Revoltados, onde se vota? No partido, que nunca governou e que tem um discurso agressivo, tipo PCP, o Chega.
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De Anónimo a 03.06.2025 às 18:34

"valores de Abril!" Onde andam eles?
"crises ambientais!" O que eu vejo são outras crises como a de valores e de cultura. Mas se você as vir, diga onde estão e quais as consequenciais.

Você também quer refletir sobre os assuntos abordados por outros ou só quer que os outros refletiam sobre os assuntos que aborda?
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De Fernando Castro a 03.06.2025 às 19:07

Este "escutar o recado das urnas", não sendo a opinião do partido é a relato do que se passa. Um "mea culpa" sem o ser. Dizer que o ps foi a força estruturante da democracia portuguesa é uma lábia que o "pai" da dita cuja conseguiu meter na cabeça de muitos com a ajuda de alguns - aproveitadores - e bem vendida. A realidade política deixa bem claro, através dos tempos, que em política não há meios termos, ou se é de esquerda ou se é direita. O PS sempre alinhou com a direita, com discursos de "meia esquerda". O resultado está à vista. Vejamos, sempre que esteve no governo quando lutou verdadeiramente pela melhoria das condições de vida, de trabalho, de saúde, de educação, de habitação, de cultura do povo trabalhador - o que cria riqueza - não dos que beneficiam do trabalho alheio? Os direitos, liberdades e garantias não foram oferecidas pelo PS, foram conquistadas, com luta, pelo povo e pelos trtabalhadores. Considerar que perderam o contacto com o quotidiano real, com as dificuldades concretas da vida, dos que mal chegam ao fim do mês, ou não chegam mesmo, com fome e todas as dificuldades por salários insuficientes, sem creches, com deficiente SNS, habitação social, aposentação, etc. é reconhecer que o partido não esteve nunca à altura das suas responsabilidades, como socialistas que se consideram (terão vergonha de se auto-denominarem social-democratas como todos os seus congéneres europeus?) quando sempre actuaram como pró-capitalistas na gestão do país. Os exemplos são amplos sempre que estiveram no governo ou apoiando a direita quando não estavam. A predisposição actual, já tornada pública, de apoio à formação do novo governo e do futuro OGE, é prova disso. Obviar ao poder dos meios de comunicação social actual que sempre teve o poder de manipular as consciências, por falta de contraditório, por um jornalismo sério e verás, nunca esteve na sua política porque, creio, pensavam que também beneficiavam da situação e que nunca perderiam o seu poder de engano. Vamos ver quando esta direita trauliteira desfizer a CRP - a mais democrática e avançada da Europa - qual será a postura desse partido. Nas anteriores sempre esteve à cabeça das modificações e nenhuma para a melhorar a favor dos portugueses. Pobre povo crente, pouco letrado, temeroso e acomodado que talvez um dia desperte e reaja.
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De Antonio Lopes a 04.06.2025 às 08:45

É o POVO que vota. É o POVO quem escolhe. O POVO não é estúpido.
Continuem a malhar sempre no mesmo e vão ver nas próximas eleições.
Estúpidos são a maioria dos papagaios avençados que invadiram as TV,s.
E pelos vistos já arranjaram outro ódio de estimação, o Almirante. Esperem pela pancada.

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